Os Santos de Junho

FinalDizia há poucos dias um dos párocos do Porto que é pena que se tenha perdido o “sentido religioso” dos vários santos que se festejam em Junho. A afirmação até parece ter parte de verdade, se pensarmos que nesses dias e noites de folia poucos serão os que se lembram do culto a essas figuras. Mas, por outra parte, tem também bastante de incompleto, se tivermos em conta que a “santidade” não corresponde só à prática cultual, e muito menos é sinónimo de vida monótona ou marcada por proibições. Não acaba essa por ser a ideia que tantas vezes levamos dentro, e que nos faz hesitar diante da pergunta se queremos ser santos?

A palavra “santidade” tem a sua origem no hebraico “kadosh”, que significa “separado”. É separação não do que é alegre, simples ou humano, mas separação do que é “impuro” ou incompleto, de tudo o que faz com que a (nossa) humanidade não se realize inteiramente. A santidade não é assim uma existência submissa e amorfa à margem da vida, mas caminho a percorrer em direção à entrega e à inteireza das coisas. É santo aquele que não desiste de em cada momento querer ser mais e dar mais. Como é santo o que se empenha em transformar o mundo. E recusa a santidade quem se fecha no auto-centramento que nos torna egoístas, no comodismo que nos faz viver a meias, ou até nos medos que nos impedem a abertura e a confiança.

Nesta lógica mais real, a missão desta casa (com nome de santo) não é outra que fazer santos! A equipa torna-se santa no chamamento ao empenho e a “dar o litro” em todos os casos e circunstâncias. Os voluntários são exemplos de santidade na sua dedicação comprometida e fiel, assim como quem partilha connosco bens e outros recursos. Quem é servido no Centro é também convidado a esta santidade, que a fase presente de ser ajudado se torne, no futuro, memória e impulso para ajudar outros. E falar do Centro é falar também de tantas outras instituições, grupos e pessoas desta cidade, que nos dão igual exemplo de entrega e de virtude. Assim dá gosto e faz sentido viver e celebrar a santidade! Haverá então alguém que ainda hesite em querê-la para si? Que esteja a ser (e assim continue até ao fim) um bom mês de santidade para todos!

 P. Filipe  sj