Um novo ano

Este é tempo para desejar que o novo ano que começa seja melhor que o que acabou. Que os nossos melhores sonhos e desejos se concretizem. Mas, e se olharmos para o novo ano como uma oportunidade para dar asas ao que de melhor o ano passado nos ofereceu? Afinal somos capazes de encontrar coisas boas num ano como aquele em que descobrimos como um pequeno vírus pode transformar todo um conjunto de hábitos e vida já alicerçada?

2020 não foi só um ano de confinamento, de máscaras, de afastamentos, de ausência de abraços. Foi também um ano em que redescobrimos o valor da colaboração, do cuidado e, sobretudo, da amizade que, por ausência de contacto, se tornou mais visível. Foi também um ano que nos ajudou a descobrir como podemos ser mais solidários com os mais frágeis: ir às compras aos vizinhos que não podiam sair de casa, por serem pessoas de risco ou estarem doentes; com aqueles que viram reduzidas as suas hipóteses de colocar comida nas mesas para alimentar os seus.

Mas porque terá que ser um vírus a ajudar-nos a descobrir estes valores universais? Será que somos capazes de esperar que este ano, que esperamos de superação do novo vírus, faça de nós pessoas mais comprometidas com os outros? É certo que muitos de nós já estávamos atentos aos outros, mas parece que 2020 foi um ano que nos fez sentir que o outro vive aqui ao lado. Por isso é importante que ao desejarmos um bom e feliz ano novo de 2021 desejemos continuar a desenvolver este sentido de cuidado pelo outro.

Aqui no Centro São Cirilo encontramos muitos outros que requerem o nosso cuidado. Que bom seria que neste desejo de cuidado pelo outro descobríssemos que o outro é o que sofre, é aquele que pede a minha ajuda, aquele que necessita a minha mão estendida, que por vezes o outro sou eu.

Que este novo ano, que nos proporciona tantos dias para renovar a nossa atitude de cuidado, possa verdadeiramente ser um ano em que, por ter mudado a atenção que coloco no cuidado pelo outro, me/nos ajude a descobrir que podemos mudar o mundo. E, quando o ano terminar, possamos tê-lo feito com o sentido do dever cumprido, com a consciência de que o ano que deixamos ficou melhor que quando nos foi dado.

Votos de um bom ano!

José Eduardo Lima, s.j. | Presidente da Direção