Nesta época de Natal em que, por um lado, os dias são mais curtos, há também muitas pequenas luzes que brilham com força na escuridão da noite.
Na noite fria de Belém, encontramos a figura de um Jesus recém-nascido, de um Jesus que ainda não aprendeu a falar. Há, porém, muitas coisas que podemos já aprender com Ele. Em Jesus – mesmo em Jesus Menino – Deus fala-nos, e de um modo bem eloquente. Não é certamente por acaso que Jesus é apelidado de “Palavra (Verbo) de Deus”.
Nascendo pobre, colocado numa manjedoira, Jesus parece querer fazer que desloquemos o nosso olhar para realidades que nem sempre recebem o foco da nossa atenção. Mais uma vez recorro a Sophia de Mello Breyner: “E onde tudo parece abandonado / Um lugar pela estrela foi marcado” (A Estrela).
Quando Maria estava para ser mãe, numa terra que não era a sua, nenhuma porta se abriu. Quando Jesus estava para nascer, nenhuma casa O recebeu. Apesar disso, porém, talvez não seja agora tarde de mais para acolhermos Jesus. Querendo colocar-Se no lugar dos que passam necessidades – identificando-Se com eles –, Jesus diz-nos explicitamente que, cada vez que ajudamos um irmão nosso, é a Ele Mesmo que ajudamos: “Era peregrino e acolheste-Me; estava nu e vestiste-Me; tive fome, e deste-Me de comer” (Mt 25).
Ao ter vindo a este mundo no meio de tantas privações, Jesus está por isso a abrir também a porta para que, no futuro, muitos outros possam não ter de passar pelas necessidades que Ele passou. E a dar-nos a todos a possibilidade de O acolhermos a Ele em cada ser humano, “imagem e semelhança” sua.
Luís Ferreira do Amaral s.j.