Este desafia mudar o nosso olhar para uma outra realidade não nos pode deixar indiferentes. Não é só a beleza das cores dos campos. Há todo um desafio que o outono nos convida a viver. A comodidade dos dias a crescer e do calor a chegar pode conduzir-nos a um fechamento de nós mesmos nas nossas próprias alegrias. A melancolia dos dias a encurtar desafia-nos a sair de nós mesmos e ver o mundo. Contudo este ver o mundo não pode ficar por uma mera contemplação das cores das folhagens. Há muitas outras cores que precisam ser vistas. As cores daqueles que precisam de nós. Daqueles que tudo perderam.

Este outono trouxe consigo muitos outros “outonos” que nos desafiam a ver mais longe. A crise de refugiados Afegãos, aquela que é mais recente, convida a dispor-me a ajudar naquilo que posso e/ou sou capaz mas desafia a mais.

Poder ver as cores do outono é poder olhar para estas pessoas não só como gente que precisa de ajuda, mas de pessoas que querem ver reconhecida a dignidade que lhes foi, de algum modo, roubada. É olhar para estes nossos irmão não desde o diminuir dos dias de luz mas, desde a beleza das cores. E assim a minha/nossa ajuda não será só um acto de generosidade mas poderá ser um gesto transformador de proximidade. Ver para além das aparências, por dolorosas que sejam e são, até conseguir chegar ao rosto daquele que me é igual e me convida a aproximar-me dele como um igual.

Assim aquele a quem eu posso ajudar torna-se naquele que me ajuda a conhecer este Senhor que se faz um com os que mais sofrem, torna-se naquele que me ensina a beleza da arte da partilha. Não sou eu que partilho o que tenho com ele, mas antes ele que partilha a sua dignidade ferida com a minha. E, deste modo, nos tornamos ambos um pouco mais conhecedores da verdadeira humanidade, revelada por Jesus na sua paixão, que a beleza do declinar dos dias outonais possibilita.

José Eduardo Lima, sj | Presidente da Direção